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Moda, negócios e gastronomia no primeiro Africa Fashion Week Brasil

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Moda, negócios e gastronomia no primeiro Africa Fashion Week Brasil
Ernesto Xavier Ernesto Xavier

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O evento de moda baseado em sustentabilidade e ancestralidade ocupou o Expo Center Norte por 3 dias com lançamentos de coleções de designers afrodescendentes, trazendo cores e ousadia para a passarela.

A moda, por incrível que pareça, não está restrita às referências enviadas pelas Semanas de Moda europeias e norte-americanas. Existe vida inteligente e muita beleza surgindo do continente africano e de seus descendentes espalhados pelo mundo, inclusive aqui no Brasil.

O Africa Fashion Week, que ocorreu entre os dias 25 e 27 de maio no Expo Center Norte, em São Paulo, é a prova de que designers africanos e afro-brasileiros merecem atenção e investimento.

Eu estive no Africa Fashion Week a convite da Aramis no dia 25 de maio, Dia Mundial da África, que é quando se celebra a busca de vários povos africanos por liberdade, desenvolvimento e democracia.

Modelos Africa Fashion Week Brasil.

Lá estava eu admirando a beleza das produções de estilistas do continente africano e do Brasil. Essa foi a primeira edição brasileira e faz parte do circuito do African Fashion Week Londres e African Fashion Week Nigéria, fundada pela rainha Ronke, de Ilê Ifé (Estado de Osùn, na Nigéria) em 2011, chegando a sua 13° edição. 

Na passarela, eu pude ver a produção de moda africana com cortes inovadores, estampas vibrantes e muita, muita beleza. É um resgate da grandeza que tentaram nos dizer que não existia, mas que ali estava muito evidente: nos rostos, nas roupas e nos movimentos. 

O evento era uma viagem à África e sua cultura. Cheguei por volta das 19h e estava com fome. Alguns restaurantes de culinária africana estavam presentes, como o Mama Africa La Bonne Bouffe e o Biyou’z, onde comi um ensopado de carne com fufu de milho, que estava delicioso, e um suco de tamarindo. 

Em seguida visitei os bastidores para ver como estava a preparação dos modelos para entrar na passarela. A correria estava intensa, afinal seriam 5 desfiles em sequência, com detalhes para ajustar, maquiagem e cabelo. 

Pela primeira vez me deparei com um elenco majoritariamente negro. Sim, tinham modelos brancos, mas ali a lógica estava invertida em relação ao que eu conhecia do universo da moda. 

Era hora de achar um lugar na primeira fila para não perder nenhum detalhe. Foi tudo muito disputado, já que estar ali era mais do que ver as tendências de cores, cortes e estampas.

Aqueles desfiles representam um recomeço, um novo mundo, uma nova visão sobre nós mesmos, comunidade negra. Pessoas que talvez nunca tenham visto outros eventos de moda, estavam ali se sentindo representadas. 

Carlos Cruz, Silvana Saraiva, Dr. Renato, Neusa Dionísia, Cassandra de Jesus Cruz e Ítalo Ramos.

Tente imaginar comigo o que significa perceber ao longo da vida que o que você é, pode ser considerado negativo. Imaginou? Assim foi a minha história e a de milhões de brasileiros. Mudar esse ponto de vista é revolucionário para nós.

E é importante frisar que ao valorizar a estética negra, não estamos querendo desvalorizar as outras. Há espaço para que todos tenham suas belezas e potencialidades reconhecidas.

A celebração começou com uma apresentação espetacular da Filarmônica Afro Brasileira. Logo em seguida, nessa primeira noite, tivemos 5 estilistas, finalizando com a brasileira Mônica Anjos, que entrou dançando na passarela ao lado da cantora Ellen Oléria.

A forma como os estilistas entram na passarela após cada desfile mostra uma grande diferença para qualquer outro evento de moda: eles bailavam em ritmos africanos e o público acompanhava. Era orgulho das origens.

Não é apenas sobre roupa: é sobre ancestralidade, alegria e resistência. E esses elementos estavam presentes em tudo.

Existem momentos na História que são considerados pontos de virada para a evolução da humanidade. Em geral, quando ouvimos falar desses fatos históricos, o protagonismo está nas mãos de europeus ou norte-americanos. É assim que somos levados a crer.

A Revolução Francesa ganha mais destaque do que a Revolução Haitiana. A filosofia grega é ensinada sem a existência da filosofia kemética (onde os gregos foram estudar). O “descobrimento” do Brasil se dá em uma terra onde já existiam povos vivendo.

Carlos Cruz: modelo, empresário e Insider Aramis Way.

A guerra de Secessão nos parece mais próxima do que a Balaiada, Sabinada, Cabanagem ou a Revolta dos Malês. Os exemplos de como as contribuições africanas, indígenas e até asiáticas nos trouxeram até onde estamos são infinitos, mas poucos valorizados.

Geralmente, os povos considerados periféricos têm dificuldade de encontrar referências positivas associadas a eles e isso acaba por forjar uma identidade de grupo que gera insegurança, autoestima baixa, perspectivas de vida limitadas, autoimagem distorcida e auto-ódio.  

O que pude ver na passarela mudou o que sentia sobre moda até hoje. É como se agora tivesse encontrado a peça que faltava no quebra-cabeças. Todas as visões de moda devem ser consideradas.

A moda que vem da África influencia o resto do mundo, mesmo que não admitam isso. Estar naquele local no dia 25 de maio me fez acreditar ainda mais em mim mesmo. Acredito que este sentimento tenha sido partilhado por aqueles que viram o que vi. 

Sabe quando temos certeza de que algo ficará para sempre marcado na memória? Estar ao lado do povo preto celebrando a moda africana e afro-brasileira com certeza é um desses momentos. A África pulsa.


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