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Soft Power: o futebol é nosso cartão de visitas

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Soft Power: o futebol é nosso cartão de visitas
Ernesto Xavier Ernesto Xavier

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O humorista e documentarista Cláudio Manoel contou recentemente uma situação de extremo perigo que passou na África do Sul, em 1995.

Ele viajava pelo país africano pouco depois do fim do Apartheid (1948-1994), quando resolveu visitar algo que seria equivalente a uma favela brasileira. Seu amigo sacou uma câmera e começou a filmar tudo.

Foram abordados por homens com facões que queriam saber o que eles estavam fazendo ali. A ameaça era evidente e a tensão crescia a cada segundo.

Sabemos que o fim foi, no mínimo, positivo, pois o próprio Cláudio sobreviveu para nos contar. Perguntaram de onde eles eram: “Brazil”. 

Ao ouvir a resposta, o homem que parecia ser o líder do grupo disse “Romário”. O craque brasileiro, hoje senador, tinha se consagrado tetracampeão mundial de futebol no ano anterior, sendo o craque da competição.

O Brasil estava na moda. O futebol brasileiro retornava ao topo após 24 anos. “Romário” salvou aquela dupla brasileira que se aventurava na África do Sul.Situações semelhantes são contadas desde 1958, quando Pelé, Garrincha, Zagallo, Vavá e Didi encantaram o mundo com um jeito diferente de jogar futebol.

Era ainda o bom e velho esporte bretão, mas tinha um gingado que hipnotizava e deixava os adversários literalmente no chão.

Dali veio o bicampeonato no Chile em 1962 com o esplendor de Mané Garrincha, o gênio das pernas tortas, depois o auge em 1970 com Pelé (de novo), Gérson, Jairzinho, Rivelino e Tostão.

O mundo passou a torcer pelo Brasil, o time que jogava sambando. Era a união das duas identidades que representavam o país: samba e futebol.

Nossa diferença está no corpo, no balanço, na malemolência que construímos na base dos conflitos de raças e etnias, nos choques culturais, na escravidão e, então, na miscigenação, só que sobre isso falarei em outra ocasião.

O que é certo é que o brasileiro é reconhecido e admirado no mundo pelo futebol. É o nosso “soft power”.

Ernesto Xavier, ator, jornalista, roteirista e Insider Aramis.

Os americanos usam o cinema para espalhar sua cultura e visão de mundo. Nós usamos Vinicius Jr, Neymar, Richarlyson, assim como usamos Pelé, Ronaldo e Ronaldinho.

A imagem brasileira vendida no exterior deve muito aos craques que são endeusados por quase todo o mundo, especialmente em países sem tradição futebolística como Sri Lanka, Índia, Paquistão, Jamaica e Haiti. 

Torcedores vestidos de verde e amarelo fazem desfiles nas ruas, se aglomeram na frente de telões e televisores, e  vibram tal qual os brasileiros no Rio, São Paulo, Bahia e Mato Grosso. 

Quando o Brasil perde, perdem também esses outros “Brasis”. Mas nossa influência vai além da alegria de um jogo da Seleção ou da salvação no exterior por ser brasileiro.

O nosso “soft power” baseado na bola e no drible é sinônimo de alegria e é assim que nos veem. Isso se reflete nas relações exteriores, nos negócios e até na moda. De 4 em 4 anos fica mais fácil ser brasileiro.

Vestir verde e amarelo pode ter vários significados, eu sei. Só que nada se compara ao orgulho de sermos vistos como um povo alegre (e que somos, apesar das dificuldades), um povo receptivo, um povo que se comunica no movimento do corpo e que leva alegria para quem também sofre como nós.

O futebol alegra do pobre ao rico. O futebol brasileiro (que também nos irrita – só faltavam 4 minutos) parou conflitos no Haiti em 2004 e parou uma guerra civil, em 1969, na Nigéria com o Santos de Pelé (olha ele aí mais uma vez).

O futebol brasileiro, mesmo não estando em seus melhores dias, ainda emociona. 


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