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Manhãs de Setembro: uma série emocionante sobre sexualidade, gênero e masculinidade

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Manhãs de Setembro: uma série emocionante sobre sexualidade, gênero e masculinidade
Ernesto Xavier Ernesto Xavier

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A série do Prime Video que humaniza e debate sexualidade, gênero e masculinidade através da vida de Cassandra, interpretada pela cantora Liniker.

Poucas obras me impactaram tanto nos últimos tempos como a série em duas temporadas (com 6 episódios cada) Manhãs de Setembro, disponível no Prime Video. São tantas camadas que quero dissecar para trazer a vocês (sem muitos spoilers), que não sei em quantas linhas conseguirei. 

É uma obra complexa por conta dos temas abordados, mas ao mesmo tempo simples, pois fala de amor. É basicamente isso: o direito de amar e ser amado. 

É como se todos os personagens, homens e mulheres cis e trans, crianças, adultos e idosos, estivessem vivendo por conta deste lema. E o sentido da vida não é esse?

Liniker, cantora que surgiu em 2015 com a banda Liniker e os Caramelows, quando lançaram o single ‘Zero’, interpreta Cassandra, uma mulher trans que mora em São Paulo, trabalha como entregadora de aplicativo e à noite canta em um boate no centro da cidade. 

Logo cedo, descobrimos que Cassandra teve um filho com Leide (Karine Teles)  e que esse filho deseja conhecer o pai. Entenderam? 

Cassandra é a personagem interpretada pela cantora e atriz Liniker na série Manhãs de Setembro.
Foto: Divulgação Amazon Prime Video

Sigam o fio: Cassandra se chamava Clóvis. Teve uma relação rápida, de uma noite, com Leide, que engravidou e não contou para Clóvis. Dez anos depois, Gersinho, o filho, quer conhecer o pai e Leide vai até ele. 

Só que Clóvis agora é Cassandra, uma mulher lutando por sua independência financeira, passando pelos perigos e dificuldades que uma mulher trans tem no Brasil (pelo 14° ano consecutivo o Brasil foi o país que mais matou pessoas trans e travestis no mundo; foram 131 em 2022. Fonte: Antra – Associação Nacional de Travestis e Transexuais).

Os episódios são curtos, por volta de 30 minutos cada, dando a sensação de que “ver o próximo agora não é uma má ideia”. Talvez por isso e, pelo fato de que as tramas se desenvolvem com naturalidade e você se sente dentro da tela vivendo com aqueles personagens, é que maratonar acaba sendo um ato espontâneo.

Quando falei sobre “humanizar” pessoas trans, é porque a sociedade não costuma acolher esse grupo, conviver, ter amizade, viver normalmente. Acessamos apenas os estereótipos. É como se fechássemos os olhos e fingíssemos que não existem.

E ali, na tela, estão pessoas com conflitos internos normais, com desafios cotidianos, com lutas que poderiam ser de qualquer um. Nos identificamos. Torcemos. Nos decepcionamos com a atitude do personagem algumas vezes. Normal. É um ser humano. E é uma mulher trans. Uma mulher que vai crescer como pessoa e falhando em vários momentos ao longo das duas temporadas. 

Cassandra tem um relacionamento com um garçom. Eles se amam. Só que ela é a amante e ele promete que vai se separar. Quantas histórias assim já não ouvimos falar ou até vivenciamos, não é mesmo?

Cassandra sente falta da mãe, que a abandonou ainda criança. Ela ama a cantora Vanuza e canta seu repertório nos shows, pois acredita que essa era a cantora preferida de sua mãe. Ela, inclusive, conversa com essa Vanuza imaginária que se torna uma conselheira para todas as horas. 

Série Manhãs de Setembro disponível no Prime Video. Foto: Divulgação Amazon Prime Video

Manhãs de Setembro, sem ser panfletária, explora a masculinidade frágil que aterroriza tantos homens. A série faz isso mostrando personagens de todas as sexualidades se relacionando, seja por amizade ou afetivamente. 

Pode um homem heterossexual namorar uma mulher trans e ainda assim ser hétero? Pode existir amizade verdadeira entre homem e mulher? Dois homens gays podem ter uma relação longa e leve? Mulheres trans e travestis têm o direito ao amor?

Está tudo ali no roteiro e nas interpretações, sem precisar haver um discurso tão explícito (e poderia haver sem problemas). O grande mérito da série é naturalizar a vida de pessoas que são invisibilizadas. 

O preconceito fica maior e mais forte quando não lidamos com ele. O que nos é desconhecido acaba nos causando repulsa. E quem está no poder, costuma se sentir ameaçado por aquilo ou aquele que lhe é diferente. Quanto mais tramas trouxerem questões necessárias da nossa sociedade, mais natural será, menos “estranho” será. 

A arte tem essa capacidade de moldar o pensamento, de fazer questionamentos, de refletir sobre o que nos incomoda. Por isso a arte é necessária e salvadora. Manhãs de Setembro me salvou e eu nem sabia. 

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