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Lei Seca: Por trás da origem dos coquetéis

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Lei Seca: Por trás da origem dos coquetéis
Alex Mesquita Alex Mesquita

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Nos últimos anos, os Estados Unidos estiveram no meio de um movimento crescente de cervejas e destilados artesanais. E, quando falamos de bebidas destiladas não podemos esquecer do período mais obscuro do Estados Unidos: a lei seca. 

Cem anos atrás, o estado ocidental do Nebraska tornou-se o 36º estado, dentre 48 no país, a ratificar a 18ª Emenda da lei seca: um decreto que proibia a produção de bebidas alcoólicas em todo o país.  

Cervejarias, vinícolas e destilarias nos Estados Unidos foram obrigados a fechar as suas portas e a maioria nunca mais abriu. Porém, existia uma legião de fãs que queria continuar a produção de álcool e, supostamente, de drinks.  
 
Grande parte das bebidas nessa época era de péssima qualidade e isso gerou uma necessidade de produzir ingredientes artesanais de boa qualidade. Surge assim um novo negócio.  
 
Para o bem ou para o mal, a proibição de bebidas alcoólicas mudou a maneira com que os americanos bebiam e seu impacto cultural nunca desapareceu. Os contrabandistas estavam, em sua grande maioria, escondidos da polícia e a criatividade de novos negócios começava a gerar ganhos futuros. 

Durante a Lei Seca, a principal fonte de consumo de álcool era o álcool industrial, usado para fazer tinta, perfumes e combustível para acampamentos. Com quatro litros de álcool industrial era possível fazer cerca de 11 litros de gin ou uísque falso. 

Com a lei seca em vigor, o álcool industrial precisava ser “desnaturado”, ou seja, precisava ser adicionado produtos químicos que o tornariam impróprios para beber. Os contrabandistas rapidamente se adaptaram e descobriram maneiras de remover ou neutralizar esses “adulterantes”. O processo mudava o sabor do produto que, mesmo assim, era consumido ilegalmente. 

Na época, o álcool caseiro produzido era muito ruim: quase nunca era envelhecido em barril pela maioria dos “moonshines” – termo que foi criado nos Estados Unidos para discriminar os produtores que fugiam da polícia e se escondiam na montanha para prepararem suas bebidas ilegalmente.  
 
Houve um momento em que eles descobriram que podiam simular o Bourbon adicionando carne seca ao luar e deixando-o descansar por alguns dias. Além disso, desenvolveram o Gin, adicionando óleo de zimbro ao álcool e misturando-o com creosoto, um antisséptico feito de alcatrão de madeira, para recriar o sabor defumado do uísque escocês.  
 
No entanto, com poucas alternativas ao alcance, essas versões duvidosas de álcool estavam em alta nesse período. Os contrabandistas preferiam negociar bebidas alcoólicas em vez de cerveja ou vinho, porque uma garrafa de gin ou uísque podia custar muito mais caro do que uma garrafa de cerveja.  

Antes da Lei Seca, os destilados representavam menos de 40% do álcool consumido nos Estados Unidos. Ao final do “nobre experimento”, as bebidas alcoólicas representavam mais de 75% das vendas de álcool. 
 

Para tornar o álcool mais “saboroso”, bebedores e bartenders misturavam com vários ingredientes que geralmente eram doces. E é por isso que, historicamente falando, boa parte dos drinks são doces. 

O Gin era uma das bebidas mais populares da época, porque era geralmente a bebida mais simples, barata e rápida de produzir. Na época, existia uma regra de produção que era: Gin com água, glicerina e óleo de zimbro. Essa mistura base era vendida em grande escala. Por isso, muitos dos coquetéis criados durante a Lei Seca eram feitos com Gin.  
 
As criações populares da época incluíam Bee’s Knees, uma bebida à base de Gin que usava mel para afastar esses sabores fortes; e o Last Word, que misturava Gin com Chartreuse (licor francês de ervas). 

Outro destilado muito importante nesse período foi o Rum. O Rum foi outra bebida popular durante a Lei Seca, com grandes quantidades contrabandeadas para regiões caribenhas através de pequenos barcos capitaneados por “corredores de Rum”.  

O Mary Pickford, por exemplo, foi um coquetel inventado na década de 1920, que usava suco de grapefruit e Rum. 

O coquetel também se tornou uma parte importante do entretenimento doméstico. Com menos cerveja e vinho disponíveis, as pessoas organizavam jantares com coquetéis criativos e a arte da mistura era levada a sério. Surge assim uma nova “moda” dos coquetéis artesanais.  
 
No final dos anos 1980, os bares mais empreendedores dos Estados Unidos tentaram recriar a atmosfera da era da Lei Seca, com coquetéis criativos servidos em lugares mal iluminados, onde era preciso uma senha para se ter acesso.  

Assim surge o “Speakeasy Prohibition”. O movimento moderno de coquetéis artesanais na América provavelmente remonta à reabertura do lendário Rainbow Room no Rockefeller Center de Nova York em 1988.  
 
O lendário Dale Degroff criou uma lista de coquetéis repleta de clássicos da era da Lei Seca, juntamente com novas receitas baseadas em ingredientes atemporais.  

Mais ou menos na mesma época, do outro lado da cidade, o restaurante Odeon lançou o Cosmpolitan – que depois ficou famoso no programa “Sex and the City” da HBO – uma mistura de vodka martini com suco de cranberry, suco de limão e triple sec.  
 
Rockefeller se junta às Cigarette Girls na gala para celebrar a reabertura do Rainbow Room no Rockefeller Center em Nova York em 10 de dezembro de 1987 e depois disso, a coquetelaria Americana explodiu!  
 
Nasce um movimento especial entre os principais bartenders dos Estados Unidos, tornando-os “mixologistas” mais famosos da cidade, e os menus de coquetéis se expandiram com novas bebidas, novas técnicas e muito glamour. 

Hoje, estamos vivenciando o melhor momento da coquetelaria global. Espero que tenham gostado e até a próxima. 

Beba menos, beba melhor! 


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