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O prato cheio que é o Fasano Nova York

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O prato cheio que é o Fasano Nova York
Luciano Ribeiro Luciano Ribeiro

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“O diabo mora nos detalhes”, já dizia o provérbio. O mosaico de pedra que forma a entrada do salão do restaurante principal do Fasano Nova York foi desenhado e numerado por Isay Weinfeld. Ou seja, das dezenas de pedras de diferentes tamanhos, cada uma saiu da cabeça para as mãos do arquiteto, e então foram moldadas, numeradas e colocadas em seu devido lugar, exatamente conforme pensou Weinfeld.

Os banheiros são inteiros de mármores importados da Turquia – até o teto é revestido com a pedra. Os alimentos estão acondicionados em 16 câmaras frias e existem mais de oito elevadores para agilizar o serviço. Há ali duas cozinhas, uma para cada restaurante. O investimento passou dos $40 milhões de dólares – nenhum outro restaurante do grupo chegou perto desse valor.

Dois espaços que se completam

O Fasano Nova York tem, no mesmo espaço, uma osteria e um restaurante mais formal. Eles estão separados por um lindo e longo corredor de madeira, decorado com flores, livros, fotos do empresário Gero Fasano com seus amigos e familiares, revistas e objetos afetivos que dão vida e calor ao local.

Logo que você entra pela Rua 49, você entra no primeiro restaurante, o mais informal. Ali, a cozinha é de trattoria, os preços são mais baixos, a carta de vinho é menor, a de drinks é extensa. Logo se vê um bar, deixando claro que o lugar aposta na boa coquetelaria. No início de maio, a osteria estava cheia, animada, bombando mais no almoço do que no jantar (embora também cheio). Provei trofie ao pesto e, de sobremesa, torta de maçã. Ambos ótimos.

Criado por brasileiro, adotado pelos norteamericanos

Desde que abriu as portas, o Fasano se tornou “the hottest table in town” (a definição veio de um jornal local). É necessário fazer reservas para o jantar, e o almoço virou o power lunch de Midtown Manhattan, atraindo até mesmo as grandes celebridades.

Há muitas diferenças entre o Fasano de São Paulo e o americano. Uma semelhança, porém, é a pequena escadaria logo na entrada do salão. Gero diz que aprendeu isso com Claude Terrail, o lendário dono do La Tour D’Argent, em Paris. “O cliente gosta de chegar por cima, de olhar e ver todos que estão ali”, diz Gero. 

A pequena escadaria da entrada é um dos marcos do restaurante

Uma das diferenças que mais me chamou a atenção foi perceber que as mesas do Fasano mais formal estão sempre cheias, muitas vezes com grupos de amigas: duas, três, quatro. São mulheres bem-sucedidas, entre 28 e 50 anos, que não hesitam em provar vários pratos e pedir vinhos elaborados. Essa cena não se vê no Fasano paulista. Não é um restaurante de executivos ou de casais. O salão é vibrante, enérgico, cheio de vida, as vozes nunca muito barulhentas preenchem como música o espaço. 

No cardápio nova-iorquino também tem ingredientes que não chegam ao Brasil. Um dos clássicos da casa, por exemplo, é a costoletta di vitello. O prato era famoso no Gero, mas o Brasil proibiu a importação da carne de novilho, e também não é possível comprá-la nos mercados. Em nosso país, é servida a costoletta alla milanese com carne bovina. A diferença é que o prato chega à mesa com aquela carne bem branquinha, de sabor leve, empanada porém sequinha, e grande! Outros destaques são os risotos al dente e as massas frescas.

Diferentemente do que se poderia imaginar, o Fasano não virou o restaurante dos brasileiros em Nova York. Não tem nenhuma brasilidade (ou quase nenhuma, já que alguns profissionais vieram das casas nacionais e a variedade de cachaça é grande na carta de bebidas) a ser demonstrada. É um restaurante do Norte da Itália cujo dono é brasileiro. Rapidamente os nova-iorquinos gostaram do conceito, e o que se ouve é inglês entre as mesas. São locais, e não turistas que frequentam o lugar.

A tradicional costoletta alla milanese é leve e extremamente saborosa.

Manhattan é só o começo?

O Fasano chega aos EUA propondo uma culinária distinta daquela que os nova-iorquinos estão acostumados. A imigração na cidade americana veio do Sul da Itália essencialmente, e os lugares que fazem sucesso por lá tem o alho como um dos ingredientes principais. Por lá, também são famosas as meatballs – os conhecidos bolinhos de carne.

Já a tradição do Fasano, que remete ao primeiro restaurante paulistano inaugurado em 1902, é de uma cozinha do Norte: polentas, bolitto misto, cotoletta, molho pesto. Estava em falta também, em Manhattan, espaços dedicados à alta gastronomia italiana, o fine dinning como eles chamam. Os bons restaurantes, como Carbone, estão mais para trattorias. São gostosos, mas simples, nada próximo da sofisticação do olhar de Gero e Isay Weinfeld.

Jantei com Gero no dia antes de ele embarcar de volta ao Brasil, depois de meses de muita tensão, trabalho, estresse, dúvidas, adiamentos da abertura por causa da pandemia. A sensação dele era de vitória, mais um gol, um golaço feito. Seus e-mails estão cheios de mensagens de investidores propondo parcerias em Los Angeles, Miami, Dubai e Londres. Gero, no momento, não responde. Sabe que tem muito a fazer ainda em Nova York. Mas, não duvide, he took Manhattan!


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