Um passeio em Pueblo Garzón no Uruguai

Em uma terça-feira de fevereiro, resolvi, finalmente, conhecer Pueblo Garzón, o que eu achava ser uma pequena cidade escondida no Uruguai, a cerca de 1h de Punta del Este. Mas, como o nome sugere, o lugar é muito menor do que imaginava.

Minha vontade de ir até lá tem nome e sobrenome: Francis Mallmann. Embora não seja o maior fã dos seus restaurantes, tenho grande admiração pelo seu estilo de vida e sua cozinha.

O argentino tem intimidade com o fogo, cresceu entre lareiras e fogueiras, aprendeu a manejar a lenha e a brasa como ninguém, e faz comidas sempre com cara de torradas – porém no ponto certo.

De suas mãos saem cortes de boi e cordeiro, empanadas, panquecas de doce de leite. Mallmann faz parte da primeira série Chef’s Table, na Netflix, e, para mim, é o melhor episódio.

Entre muitos lugares no mundo, Mallmann resolveu criar um restaurante em Pueblo Garzón, esse lugar com menos de 200 habitantes. Décadas antes também tinha aberto um em José Ignácio, a 12 quilômetros dali.

O restaurante de Mallmann fica numa casa muito charmosa, perto da pequena praça central de Garzón. Estava fechado quando passei por lá, mas pude ver uma das suas assinaturas: montes e monte de lenha logo na porta, deixando claro, desde então, do que se trata a comida.

O menu, pelo que observei, é enxuto e os comentários no Trip Advisor não são muito animadores. Paga-se caro, sempre, para comer em um lugar desse chef argentino. Ainda assim, se estivesse aberto, viveria essa experiência.

Mas Garzón não foi atrativa apenas para Mallmann. A passos do seu restaurante tem a galeria de Piero Atchugarr, que também tem outros estabelecimentos em Miami, São Paulo e Milão. 

No dia em que estive por lá, estava acontecendo a exposição The Distance of Time, de Emil Lukas. O artista americano, nascido em Pittsburgh em 1964, mostra  peças que compõem a série intitulada “Thread Paintings”. 

A exposição exibe peças que foram criadas a partir do estiramento de milhares de metros de fios coloridos, que foram colocados à mão sobre um sistema de tear que é a moldura da própria peça.

Seu trabalho produz uma poderosa ilusão ótica de volume quando vistas à distância. É enérgica e fascinante. Nas peças, a luz, a cor e a retina se encontram, numa espécie de emoção óptica.

É também nessa minúscula cidade que está uma das grandes atrações turísticas do Uruguai: a Vinícola Garzón, que fica a 12 quilômetros do povoado. 

O prédio de 19.050 m² possui 2,2 milhões de litros de capacidade e é a primeira adega sustentável fora dos EUA com certificação LEED (Leadership in Energy & Environmental Design), seguindo as rigorosas exigências do United States Green Building Council. 

A Garzón produz alguns dos vinhos mais premiados do país, além de azeite. Eu gosto muito da Alvarinho, um tipo de uva portuguesa que cresce particularmente bem nesse solo uruguaio. 

Dentre todas as vinícolas locais – não deixe de visitar a Bodega Oceânica, também ali perto- a Garzón é a mais estruturada para receber visitantes. Em seu site você pode optar por reservar uma mesa para almoçar, jantar, fazer um tour pelo espaço a pé, de bicicleta ou até mesmo um picnic, além, é claro, das degustações.

Durante a minha tarde em Pueblo Garzón vi apenas uma pessoa. Estava na esperança de achar um minimercado para comprar produtos locais, e encontrei um.

Também vi um posto policial muito charmoso, uma praça, ruas de terra e nenhum posto de gasolina. O caminho até lá, especialmente quando você deixa a rodovia, é lindo.

Vê-se plantação de soja, de aveia, parreiras e oliveiras. Como todo o Uruguai, passa-se por lagoas lindas, grandes e pequenas, e também por bois, bezerros e ovelhas. 

Na sua próxima ida ao país, sugiro fortemente um dia nesse lugar escondido, porém descoberto por gente que faz a diferença.