WGSN + Aramis: A caixa dos homens
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Agora que você entendeu um pouco mais sobre como os homens exercem seus papéis ao longo da História, chegou a hora de entender sobre o que se trata o conceito da “caixa dos homens”.
Criado nos anos 80 pelo escritor americano Paul Kivel, esse conceito traz a “masculinidade” no singular. Isso significa a perda da individualidade, onde todo homem tem características pré-determinadas para que seja considerado “homem de verdade”.
Embora tenha sido escrito há décadas, é possível observar que essa ideia se encaixa até hoje em grande parte das culturas e sociedades do mundo, incluindo a brasileira.
Assista ao primeiro episódio da série WGSN + Aramis
O rótulo da caixa dos homens
Basicamente, a “caixa dos homens” é um compilado que diz o que o homem pode ou não ser e fazer para se encaixar no modelo de masculinidade esperado pela sociedade.
A construção desse modelo exige que ele seja:
Autossuficiente
Desde muito cedo, os meninos aprendem que “homens não choram”, criando ali um dos primeiros aprendizados onde a vulnerabilidade perde espaço.
Além disso, os homens entendem que podem não ser respeitados caso compartilhem seus medos, problemas e preocupações, como se tivessem que resolver tudo sozinhos, sem pedir a ajuda de alguém.
Resistente
No aspecto emocional, um homem deve ser forte mesmo quando sente medo ou está nervoso. Além disso, o homem que não revida o outro quando é insultado é considerado “fraco”. Já no aspecto físico, precisa ser forte, corajoso e ativo a todo tempo.

Atraente
Primeiramente é necessário ter boa aparência para se obter sucesso. Depois, para ter a atenção de uma mulher, o homem não pode ser muito “espalhafatoso”. Por último, o homem que investe e gasta tempo com o visual não é considerado muito homem.
Rígido
O papel do homem dentro de casa é o de único provedor: um trabalhador bem sucedido, responsável por trazer o dinheiro para dentro de casa. Desde cedo, não é ensinado a realizar tarefas do lar: como cozinhar, servir, limpar e tomar conta de crianças.
Heterossexual
Precisa atender todo o padrão de comportamento exigido à um homem heterossexual, pois um homem gay não é visto como um “homem de verdade”, de acordo com “a caixa”.
Hipersexual
É ensinado a ter o máximo de parceiras possíveis, além de nunca dizer não para sexo. Muitas vezes, há pouco espaço para romances e, quando se envolve, tem chances maiores de trair.
Controlador
É ensinado que se tem uma namorada ou esposa, ela lhe deve satisfações o tempo todo, como sobre o lugar que está, entre outras informações. Além disso, a palavra final quase sempre é dele.
Branco*
O homem branco se sente superior ao homem negro, fazendo com que o segundo não tenha os mesmos direitos que o primeiro.
*Este atributo não faz parte do conceito original criado por Paul Kivel, porém, para estudo e entendimento, este é um fator importante a se considerar.
Uma pesquisa realizada recentemente, ouviu mais de 40 mil pessoas e resultou no documentário “O silêncio dos homens”, onde é possível observar que esses comportamentos têm moldado grande parte do universo masculino até os dias de hoje.
Quando perguntados sobre a infância e a adolescência, a maioria dos homens diz ter sido ensinados a ser bem sucedidos profissionalmente, não se comportar de modos que pareçam femininos, ser fisicamente fortes, ser o responsável pelo sustento financeiro da família e não expressar suas emoções.

O impacto da caixa na vida dos homens
Dados mostram que os impactos da caixa na vida dos homens geram números preocupantes relacionados a violência, vícios, altos índices de suicídio, saúde debilitada, entre outros.
Abaixo você confere alguns dados que confirmam como esses padrões atingem negativamente boa parte de população masculina:
Vícios
- 17% dos homens lidam com algum nível de dependência alcóolica (Instituto PdH + Zooma Inc, 2019).
- 24% dos brasileiros se declaram viciados em pornografia (Instituto PdH + Zooma Inc, 2019).
Saúde debilitada
- 6 em cada 10 homens afirmam lidar com distúrbios emocionais em algum nível e evitam buscar ajuda (Instituto PdH + Zooma Inc, 2019).
- 8 em cada 10 homens reconhecem que cuidam pouco da própria saúde e gostariam de mudar (ONU, 2016).
- 30% dos homens enfrentam ejaculação precoce ou disfunção erétil (Instituto PdH + Zooma Inc, 2019).
Falta de suporte
- 40% dos homens brasileiros declaram se sentir solitários sempre ou com muita frequência (Instituto PdH + Zooma Inc, 2019).
- Homens são 85% dos moradores de rua em São Paulo (Prefeitura SP, 2020).
- Apenas 3 em cada 10 homens possuem o hábito de conversar sobre seus maiores medos e dúvidas com os amigos (Instituto PdH + Zooma Inc, 2019).
- Somente 2 em cada 10 homens dizem ter tido exemplos práticos de como lidar com suas emoções (Instituto PdH + Zooma Inc, 2019)
Pressão por padrões estabelecidos
- 54% gostariam de ter mais tempo para se dedicar aos hobbies e prazeres da vida, sem serem julgados como frouxos ou pouco ambiciosos (ONU, 2016).
- 45% gostariam de explorar mais sua sexualidade, seja em relacionamentos casuais ou estáveis, mas não o fazem por medo de serem julgados (ONU, 2016).
- 45% gostariam de não se sentir obrigatoriamente responsáveis pelo sustento financeiro da casa (ONU, 2016).

Altos índices de suicídio
- A cada hora, um homem se suicida no Brasil (IBGE).
- 76% dos suicidas brasileiros são homens, 3 vezes mais do que as mulheres (OMS, 2019).
- 40% dos homens de até 17 anos declaram já ter tido pensamentos suicidas (Instituto PdH + Zooma Inc, 2019).
Violência latente
- 95% da população carcerária brasileira é constituída por homens (CNJ, 2019).
- 91,8% dos homicídios são cometidos contra homens (IPEA, 2019).
- 45,5% dos homens gostariam de se expressar com menos agressividade, mas não sabem como (ONU, 2016).
Como é possível observar, a “caixa dos homens” é uma prisão cultural que ainda limita a ação e expressão de meninos e homens, gerando tensões que passam a fazer parte da realidade masculina.
Ser vulnerável, compartilhar emoções e sentimentos, estar aberto ao que se quer e não ao que os outros esperam que você seja, é se abrir para a transformação e para um mundo bem melhor – que começa de dentro para fora.
No próximo texto, você confere quais são os três grandes movimentos que questionam a “caixa dos homens”, levando-a para um lugar muito mais plural.
E, lembre-se! Dia 31 de agosto sai o episódio II de What’s Next: O Estudo Sobre Os Homens.
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